quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

São Paulo (SP):Indústria e varejo aprofundam disparidade

qui, 16 de fev/2012
FONTE: Informações do jornal Valor

O descompasso entre indústria e varejo se aprofundou no último trimestre de 2011, período no qual a produção industrial encolheu 1,4% em relação ao trimestre anterior, descontadas as sazonalidades, enquanto as vendas cresceram 1,15% no segmento ampliado, que inclui veículos e material de construção, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, a divergência é mais evidente: com desempenho sofrível, a indústria encerrou 2011 com alta de apenas 0,3% sobre o ano anterior, ao passo que o comércio avançou 6,6% no período. Os dois segmentos vêm de crescimento superior a 10% em 2010.
Para economistas, o distanciamento entre oferta e demanda doméstica que marcou 2011 é explicado principalmente pela maior parcela de importados que entrou no mercado brasileiro, facilitada pelo câmbio valorizado que barateia compras externas e dificulta exportações. O desemprego historicamente baixo - de 6% na média do ano - e ganhos sucessivos de renda também contribuiram para que o consumo continuasse avançando a um ritmo razoável, enquanto a indústria sofreu com questões particulares a ela, desnudadas pelo dólar barato e pela perda de ritmo da atividade.
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Para 2012, a expectativa geral é que a divergência entre os dois setores diminua, mas siga acentuada, já que a indústria deve apresentar recuperação modesta e o aumento do mínimo, aliado à queda da taxa de juros, deve dar novo fôlego ao varejo.
"A competição com a China fez com que a indústria sofresse muito mais do que o varejo", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, para quem o acúmulo de estoques não está por trás do rápido processo de estagnação pelo qual a produção passou em 2011. "Há dois anos se comenta que a indústria vai reduzir seus estoques. Essa questão precisa ser colocada de lado. A indústria sofre de falta de competitividade muito mais grave e profunda", opina.
Vale ressalva, no entanto, que o comércio não ficou totalmente imune à piora do ambiente externo e ao crescimento mais modesto da economia brasileira em 2011, já que a redução do emprego na indústria atenuou o poder de fogo de parte dos consumidores, assim como a desconfiança gerada pela crise externa.
Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, o menor ritmo de contratações pela indústria deve impactar o comércio no início do ano, quando as vendas sofrerão um "resfriamento adicional", que não será tão intenso como o verificado nas fábricas. "A remuneração na indústria, que tem vasos comunicantes com o resto da economia, vai perder força. As pessoas demitidas pelo setor industrial vão consumir menos e os prestadores de serviços à indústria também devem perder poder de compra", prevê o analista, que espera expansão de 5,5% nas vendas do comércio restrito em 2012, com crescimento mais forte a partir do segundo semestre, e aumento de apenas 1,3% na produção.
Os mesmos fatores que provocaram a discrepância entre indústria e varejo em 2011 devem permanecer neste ano, sustenta Felipe França, economista do Banco ABC Brasil. "Por mais que o governo tente estimular a competição, as questões externas têm muita influência na atividade industrial", ressalta, referindo-se ao Programa Brasil Maior, que desonerou a folha de pagamentos dos setores têxtil e de calçados e instituiu o Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), e à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para linha branca. Para França, uma melhora expressiva da indústria só acontecerá se houver recuperação consistente da economia mundial.
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"Se nada de mais grave acontecer na Europa", pondera Vale, da MB, as vendas do varejo restrito devem crescer 8,5% neste ano, ao passo que a produção, na melhor das hipóteses, terá alta de 2,5% frente a 2011.
Claudio Felizoni, professor da FEA-USP e coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar - FIA), acredita que o descompasso entre oferta e demanda pode diminuir ao longo do ano na esteira de medidas adicionais que o governo deve adotar para estimular a produção industrial, ao mesmo tempo em que o consumo deverá ser contido devido ao endividamento das famílias e aos altos juros. "O segmento que mais vai sofrer será exatamente o de bens duráveis, que cresceu muito nos últimos cinco anos", diz Felizoni, acrescentando que setores suscetíveis à variação de renda, como o de supermercados, devem ter resultado melhor.
Essa não é a visão de França, do ABC Brasil, que vê grande espaço para o aumento nas vendas de móveis e eletrodomésticos diante da redução da inadimplência e da queda dos juros.
No último mês de 2011, a redução do IPI para eletrodomésticos e uma recuperação no segmento de veículos ajudaram o varejo ampliado, quando o setor apresentou aumento de 1,6% no volume de vendas na comparação com novembro. Sete dos dez setores pesquisados pelo IBGE tiveram resultado positivo na passagem de novembro para dezembro.

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